Em 56 anos de casados, Sebastião e Lélia Wanick Salgado visitaram algumas das comunidades mais isoladas do planeta. E mostraram ao mundo realidades desconhecidas – ele clicando e ela organizando livros, exposições e o dia a dia da agência Amazonas Images, sediada em Paris. Juntos desenvolveram um protagonismo social de relevância, sendo um braço fundamental de sua atuação o Instituto Terra, em Aimorés (MG), cidade natal de Sebastião – que, além de fotógrafo internacionalmente aclamado, atua em prol do desenvolvimento sustentável, do reflorestamento, da educação ambiental e da pesquisa científica.
Em meio a uma crise mundial sem precedentes, Sebastião e Lélia reafirmaram a força de seu ativismo com uma petição publicada na plataforma Avaaz no começo de maio e que tem como objetivo atingir 300 mil assinaturas (até o fechamento desta edição, mais de 295 mil pessoas já haviam assinado) para pressionar o governo brasileiro a proteger da pandemia a população indígena que vive na Amazônia.
Em um post no Instagram (@sebastiaosalgadooficial), ele escreveu: “Nós precisamos cuidar e proteger o povo indígena do nosso país. Não podemos deixar acontecer um genocídio com aqueles que são, historicamente, os primeiros habitantes de nossa terra”. Personalidades se manifestaram a favor da causa, como Richard Gere, Meryl Streep e Alberto 2º, príncipe de Mônaco. Em 28 de maio, a pressão foi reforçada em uma live global que durou mais de três horas, batizada de Artists United for Amazonia: Protecting the Protectors, com o objetivo de arrecadar US$ 5 milhões até o fim de julho. Oona Chaplin (neta de Charles Chaplin) foi responsável pela condução do evento, com a presença de Salgado e Jane Fonda. A apresentação começou com imagens da floresta e narração de Morgan Freeman. Na sequência, os espectadores foram convidados a embarcar em uma viagem pela floresta – Wagner Moura e líderes de aldeias indígenas narraram as dificuldades enfrentadas por eles. Trecho da carta endereçada aos poderes do país e publicada na Avaaz diz o seguinte: “Hoje, com esse novo flagelo se disseminando rapidamente por todo o Brasil, comunidades nativas, algumas vivendo de forma isolada na Bacia Amazônica, poderão ser completamente eliminadas, desprovidas de qualquer defesa contra o coronavírus. (…) Sem nenhuma proteção contra esse vírus altamente contagioso, os índios sofrem um risco real de genocídio, por meio de contaminações provocadas por invasores ilegais em suas terras”. O fotógrafo prepara sua próxima exposição mundial (intitulada Amazônia), que deverá ocorrer em diversos países simultaneamente em abril de 2021.