No último domingo, dia 22, a revista Ela publicou uma excelente entrevista com a atriz Glória Pires, cujo tema foi o envelhecimento sob o seu ponto de vista. 

Glória deixou-se  fotografar no esplendor dos seus 57 anos. Parou de pintar o cabelo negro sempre elogiado, usou os looks mais lindos e perfeitamente  compatíveis com sua idade e nos deu algumas lições importantes. Para ela, é preciso aceitar o envelhecimento e as suas  limitações. Como ela mesma diz , porque envelhecer não é fácil,  “mas é mais fácil quando você abraça essa condição”. 

Envelhecer não é fácil, nós que já passamos dos cinquenta e sete e dos sessenta já sabemos. Nós que chegamos aos 70 e vamos trilhando cada ano, já temos algumas certezas e várias dúvidas. Entre muitas amigas que tenho, a maior parte já está chegando ou já chegou aos setenta. Temos consciência, hoje, de que chegamos aqui com muitos benefícios, bem diferentes das nossas avós que aos 60 já tinham um visual que nem os 80 de hoje conseguem copiar.  Minha avó usava o clássico chemisier, tinha o cabelo branco com um tonalizante azul pálido e uma rede finíssima para não desmanchar o penteado.

Minha mãe já era um enorme passo à frente, indo ao salão toda semana, escolhendo cuidadosamente vestidos mais modernos, tailleurs e terninhos, usando saltos grossos que eram moda, mas altos. Era vaidosa e adorava óculos modernos e blazers de linho. Eu já sou uma avó que sempre trabalhou,  que frequentou a universidade, que escolheu o momento de ter os filhos. A moda era o gosto pessoal, roupas boas e confortáveis, de corte impecável. Também sou da turma que  infelizmente fumou durante anos (um traço da minha geração), que se expunha ao sol como se não houvesse amanhã – o que não havia mesmo era o buraco na camada de ozônio e o filtro solar –  que passou pela ditadura e pela censura, que viu a cena histórica da chegada do homem à lua,   que dirigiu carro desde os 18 e que um dia pediu o divórcio depois de 23 anos de casamento,  sem medo de “destruir a família”.  Sou da geração que transformou e muito a vida dos filhos – especialmente das filhas – acolhendo  algumas revoluções de costumes, como a chegada da pílula anticoncepcional,  que mudaria completamente a nossa vida e das mulheres e que hoje têm entre 40 e 50 anos, nossas filhas.  Fomos as primeiras a considerar – com muita reflexão –  que namorados poderiam sim dormir com as nossas filhas desde que mantidos os anticoncepcionais e o bom senso. Enfim, vivemos  momentos decisivos. 

Para Glória Pires, deixar os fios brancos sem tintura é um sinal de liberdade, para mostrar-se como realmente é. Porque os tempos de hoje estimulam a liberdade. Pandemia, isolamento, quase não saímos e dispensamos a maquiagem estando em casa.  Ao sair, as máscaras já dispensam o batom e o blush. Só temos os olhos e o olhar, as sobrancelhas que falam em expressões, os olhos que sorriem tanto quanto a boca. O mundo mudou! A beleza é um conceito e se transforma. Homens e mulheres se cuidam pela saúde e pela vaidade.  Podem ter cabelos brancos ou tingidos nos tons que quiserem,  crespos ou lisos, porque a indústria cosmética dá o suporte nos xampus e cremes para os lisos absolutos, os cacheados maravilhosos ou os crespos rebeldes.  Podem ter rugas que riscam um rosto como se fossem seus rios e suas trilhas, porque a hidratação e a química simulam  o preenchimento do tecido que ressecou.  

Marcas e vincos contam histórias num rosto que parece dizer, vivi muito, colecionei histórias e sabedorias, tenho as mais lindas lembranças, tenho também as dores e as perdas daqueles que amei e que ficaram para sempre, mesmo deixando mágoas para trás. Aprendi que perdoar é libertador, que entender o outro é saber conviver com as diferenças, que  ter fé é um privilégio não importa em quais crenças e que principalmente aprender é por si o que de melhor temos a fazer nessa longa e tão curta vida.

 Zelia Prado

 

 

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