O primeiro café com bolo pós-quarentena ninguém esquece

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Foi um convite bom de receber por novas amigas depois de 1 ano e 3 meses de distanciamento! 

Amigas novas, como que presentes da pandemia, quando não esperamos essa novidade e quando infelizmente ouvimos más notícias todos os dias! Então lá fui eu muito feliz, podendo desfrutar das duas doses de vacina e sua quarentena numa casa em que a covid e as vacinas já haviam acontecido. Um lugar de beleza, de acolhimento e harmonia. A mesa linda e preparada com gosto, as amigas assim me receberam.

A conversa já começou boa desde a porta de entrada e seguia, enquanto o cheiro do café invadia a sala e nos descobríamos em afinidades,  como acontece nos primeiros encontros. O prazer da conversa quando envelhecemos é ainda maior e mais rico por ter tantas referências! Alí, éramos quatro amigas entre 65 e 74 anos, as quatro com um grande patrimônio de vivências e histórias.  Vivemos bastante por várias razões que não dependem de nós, mas também porque amamos viver. 

A conversa vinha natural como ondas  quebrando em praias diferentes ao longo de um litoral. Chegando na infância e juventude, uma lembrança  foi destaque e  por ser uma história engraçada, rimos muito relembrando e puxando da memória mais histórias. A tarde virou noite e apesar de algumas tentativas de irmos embora, não conseguimos! Minha cunhada e eu encerramos essa tarde incrível às 2 da manhã, nos sentindo muito bem. Este foi um encontro daqueles que, enquanto acontece, sabemos estar vivendo um momento único  com pessoas que vieram para ficar. É uma sensação, mais do que isso, uma reflexão que só a maturidade nos concede.

Zelia Prado com amigas e amigos de infância. No batizado da “filha” Sandra.

No dia seguinte, pensei mais na minha história de criança. Aos cinco anos conheci minha primeira melhor amiga, da mesma idade. Éramos uma novidade uma para a outra. Ela era a quarta das seis lindas meninas de um médico e uma dona de casa, nossos vizinhos de prédio. Dormia numa cama beliche que eu achava uma maravilha e tinha cabelos cacheados, outra maravilha que eu gostaria de ter! Por sua vez, ela gostava do meu quarto de menina com penteadeira, do meu cabelo tão liso que não segurava um grampo. Amávamos nossas diferenças e eu a queria o tempo todo por perto.   Éramos siamesas, enquanto isso foi possível. Fizemos juntas a Primeira Comunhão, nos vestimos de anjo para coroar Nossa Senhora, ela enfim era família frequentando a casa dos meus avós em Niterói, transitando como a irmã que eu gostaria de ter tido. Mas a vida e o crescimento nos distanciando. Ela foi para um outro colégio, fez novos amigos, eu também. Nossa profissão foi a mesma, tomando caminhos diferentes. 

Um simples café com bolo despertou muitas emoções em mim. Pelo presente de ganhar amigas na pandemia, graças à minha cunhada que nos apresentou e pela lembrança da primeira  melhor amiga. O que importa é que muitos anos depois, ambas com os filhos criados, voltamos a nos encontrar. E no reencontro, apenas atualizamos nossas vidas, como fazemos hoje com o computador.  Além disso,  as redes sociais nos devolveram uma intimidade nova, como se nunca estivéssemos distantes.  Hoje, envelhecer significa muito mais. Estamos vivas, ativas e trocando fotos das netas por quem somos apaixonadas.  É a vida, e é bonita.

Zelia Prado

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