A idade é uma variável importante para entender a pandemia de covid-19, mas não pode ser analisada sozinha.

Para muitos pesquisadores do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, na Alemanha, entre eles a brasileira Marília Nepomuceno, “a faixa etária deve ser analisada juntamente com variáveis que contextualizam cada país, como por exemplo, condições de saúde, desigualdades socioeconômicas, acesso a serviços médicos, composição das famílias, condições sanitárias, o privilégio de seguir as medidas de prevenção e distanciamento social, dentre outras, “ explica a brasileira.

Por isso, ela diz que o escopo de análise da demografia vai além dos efeitos de variações na estrutura etária.

“Essa é uma visão muito reducionista da área de estudos populacionais, que deve se preocupar não apenas com variações dos eventos entre grupos de idade mas também em cada um deles, ao longo do tempo e entre gerações”, explica.

De fato, de acordo com Nepomuceno, as taxas de letalidade são maiores em idades mais elevadas. “Mas os autores publicaram um exercício simplista”, diz.

“Para isso, os demógrafos examinam inúmeras outras variáveis de interesse para a sociedade e que no caso da covid-19 podem ajudar a explicar as diferenças no número de casos e de mortes.”

Marília alerta que uma abordagem que considera apenas a estrutura etária populacional para entender um fenômeno tão complexo como a pandemia de covid-19 pode não ser suficiente para compreender todo o fenômeno”, diz.

“Fatores contextuais, e não apenas a idade, devem ser considerados para um bom entendimento da pandemia no Brasil.”

Isso porque vários fatores demográficos, sociais, econômicos e governamentais podem explicar as variações entre países. Para exemplificar isso, o grupo, que inclui pesquisadores brasileiros, do Canadá e da Alemanha, analisou diferenças entre as condições de saúde associadas a mortalidade por covid-19 no Brasil e Nigéria em relação à Itália.

“Constatamos que as altas prevalências de doenças crônicas entre os adultos brasileiros, por exemplo, podem aumentar a vulnerabilidade desta população, com potencial para compensar parte dos benefícios da idade mais jovem.”

“Os resultados publicados, já apontados anteriormente, fazem parte de uma discussão complexa, que envolve muitos fatores simultâneos e que precisarão ser analisados ao longo dos próximos anos, até que toda a dinâmica da doença seja conhecida.

Para Maríia Nepomuceno, “a Ciência levará muito tempo para compreender a dinâmica de riscos da covid-19”,  avalia.

Compacto de conteúdo BBC

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