“Dormir bem, comer bem, é só isso que importa para quem é velho”, diz Xiao, 75, moradora de Rudong, localizada na província de Jiangsu, na China. Alegre, a senhora divide um quarto com um casal na faixa dos 80 anos numa antiga escola primária hoje convertida em casa de idosos –o que ilustra perfeitamente a crise demográfica chinesa.
Um cartaz na parede do edifício Rudong Binshan avisa aos visitantes que bolinhos de arroz representam um risco de asfixia para seus parentes mais velhos. Para Xiao, a melhor coisa neste lugar é que “a gente não precisa cozinhar”.
No final da década de 1960 a população de Rudong era tão grande que o condado foi o primeiro onde foi implantada a política do filho único. Hoje, quase 60 anos depois, trata-se da região mais velha do país: quase 39% de sua população tem 60 anos ou mais —mais do que o dobro da média nacional de 18,7%.
A situação difícil de Rudong oferece um vislumbre do desafio demográfico que vem por aí na China que, em larga escala e velocidade, promete ultrapassar de longe as crises semelhantes em outros países como Japão e Itália.
Para Pequim, a crise demográfica vai exigir reformas dolorosas a um modelo de crescimento que fez da China a segunda maior economia do mundo, incluindo o desvio de gastos com infraestrutura e com o setor imobiliário para aposentadorias, saúde e um esforço para encontrar trabalhadores mais jovens para as fábricas. O país também terá que amenizar a desigualdade aguda no sistema de aposentadorias, que faz com que muitos residentes urbanos recebam abonos muito maiores que a maioria dos trabalhadores migrantes e moradores da zona rural.
“O desenvolvimento da população é uma questão vital”, disse o dirigente Xi Jinping neste mês a funcionários do alto escalão. Ele ainda destacou o novo slogan do partido, “desenvolvimento de alta qualidade da população”, que enfatiza a necessidade de creches e ensino melhores e a redução do ônus da criação de famílias.