Vacinas são necessárias mas não são 100% eficazes

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“Sabemos que as vacinas são muito eficazes, mas não são 100% eficazes. Não é surpreendente que se tenha episódios de pessoas vacinadas e que adoecem e quando aumenta a incidência da doença começamos a encontrar mais destes episódios”, disse Ricardo Mexia em declarações à agência Lusa a propósito dos recentes surtos da doença em lares de idosos.

O médico considera importante que as pessoas tenham a clara perceção de que as vacinas não evitam a infeção e que é necessário manter as medidas de proteção.

“Podem reduzir a carga viral, mas foram desenhadas para reduzir os episódios graves e a mortalidade e é nisso que têm sido bem sucedidas”, disse referindo que nos lares, mesmo os que têm surtos, as taxas de mortalidade dos infetados são inferiores às registadas em janeiro ou fevereiro.

Mas, no entender de Ricardo Mexia, estas situações devem ser evitadas pelo que defende a necessidade de melhorar as medidas de proteção, considerando importante que as pessoas tenham a perceção que podem visitar os familiares com as devidas cautelas.

“Terem a perceção de que apesar de estarem vacinadas não são livres de continuar a manter medidas de combate à pandemia. Esta mensagem é fundamental”, frisou.

Por outro lado, defendeu uma antecipação da vacinação dos idosos que tiveram a infeção e que por isso foi inviabilizada a sua administração.

“Houve surtos que inviabilizaram a vacinação, mas pode ser uma boa solução antecipar a vacina para quem já teve a doença”, frisou.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou a existência de seis surtos ativos de covid-19 em lares de idosos portugueses. Estes surtos correspondem a 54 casos de covid-19, parte deles já recuperados, acrescentou a mesma fonte da DGS. A confirmação dos surtos surge depois da notícia da morte de duas idosas em lares, na última semana.

Entretanto a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou que não há necessidade de voltar a limitar as visitas a lares de idosos, advogando que as pessoas vacinadas contagiadas com o novo coronavírus desenvolvem “uma doença muito mais moderada”.

“Estamos numa situação da epidemia em que os vacinados que eventualmente estão a ter casos de transmissão de doença têm uma doença muito mais moderada, muito mais controlada”, justificou Marta Temido em declarações à margem da inauguração da nova Unidade de Saúde Familiar da Alta de Lisboa.

A ministra da Saúde recordou também “que já há algum tempo” a Direção-Geral da Saúde emitiu um ofício para que o tempo entre a recuperação da doença e a vacinação fosse de 90 dias, garantindo que essa medida “já está a ser aplicada”.

O funcionamento do sistema imune dos idosos

Os cientistas brasileiros dizem que já esperavam por um efeito menor da CoronaVac entre idosos.

O mesmo acontece com outras vacinas, porque o sistema imune funciona pior conforme envelhecemos. É algo especialmente comum com as vacinas de vírus inativados (incapazes de se reproduzir), como é o caso da CoronaVac.

Dimas Covas falou sobre isso quando foi questionado pelos senadores sobre a morte de Nelson Sargento, aos 96 anos, por causa da covid-19. O sambista já tinha tinha tomado as duas doses de CoronaVac.

“Pessoas idosas têm um fenômeno biológico chamado imunossenescência. Os idosos respondem menos na produção de anticorpos em relação aos indivíduos mais jovens”, afirmou Covas.

Mas os dados da efetividade da CoronaVac em idosos “deixaram muita gente assustada”, reconhece Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.

A pesquisadora diz que não há motivo para se preocupar por enquanto.

Primeiro porque uma vacina em geral confere algum grau de proteção, mesmo quando ela não consegue impedir que alguém fique doente.

Segundo porque, quando destrinchados, os dados do estudo sobre a proteção de idosos contam uma outra história. “O estudo não surpreende e, quando surpreende, é positivamente”, diz Pasternak.

Por exemplo, entre os participantes com idades entre 70 e 74 anos, a efetividade foi melhor (61%) do que a eficácia dos testes clínicos.

Uma hipótese para isso é que os primeiros estudos foram feitos com profissionais de saúde, que naturalmente se expõem mais ao vírus.

A efetividade entre os que tinham de 75 a 79 anos também ficou bem próxima da eficácia medida pelos testes (48,9%).

Foi só entre os que têm mais de 80 anos que a efetividade foi significativamente mais baixa.

Natália Pasternak diz que isso não deve ser encarado como um problema, mas como uma informação que precisa ser levada em conta por quem cuida da estratégia de imunização.

“Podem colocar uma terceira dose da CoronaVac ou aplicar a vacina da AstraZeneca. Isso é normal. Vai se adaptando a vacinação conforme chegam novas informações”, diz a cientista.

Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), defende que seja aplicada uma dose de uma outra vacina.

Assim, os antígenos, que são as substâncias que desencadeiam a resposta imune, são apresentados de outra forma.

“Tem mais possibilidades de deixar uma resposta mais forte, especialmente com outras vacinas que são mais eficazes. Então, por exemplo, podemos dar uma dose da vacina da Pfizer”, diz Kalil.

‘O mais importante é evitar hospitalizações e mortes’

Os cientistas estão pesquisando os efeitos da aplicação de doses de reforço de uma mesma vacina ou entre vacinas diferentes.

Antes de ter essas informações não dá para pensar em fazer correções na imunização, afirma o médico Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Além disso, há outros estudos sendo feitos sobre a capacidade da CoronaVac de evitar os casos mais graves em quem tem mais de 70 anos.

Renato Kfouri defende que os resultados dessa pesquisa são mais relevantes no momento.

“Prevenir sintomas leves é interessante, mas não é o principal. O que mais importa agora é a capacidade da vacina de evitar hospitalizações e mortes”, afirma Kfouri.

Isso está sendo pesquisado nas cidades de Manaus e de São Paulo, e os resultados devem sair em quatro seman

 

recordeeuropa.com (Portugal); bbcbrasil

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