“Os governos devem ser educados para a longevidade”

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Richard Siow, membro do conselho científico do Longevity Med Summit, evento que arrancou esta manhã, diz ao Expresso (jornal digital de Portugal)  que faltam políticas públicas para o envelhecimento ativo

A transição demográfica e o envelhecimento são duas realidades transversais a praticamente todos os países, sobretudo na Europa. Perante este cenário, Richard Siow, diretor do departamento de estudo do envelhecimento no Kings Colllege de Londres e da Universidade de Oxford e um dos oradores do Longevity Med Summit – que arranca hoje e termina amanhã –, considera que os governos devem avançar com políticas que promovam o envelhecimento ativo. “Os governos devem ser educados para a longevidade”, disse o investigador ao Expresso.

Siow começa por comparar a transição demográfica ao período da pandemia. “Nessa altura os governos agiram rápido, houve mudanças nas políticas de saúde porque havia uma situação de emergência”, disse o investigador, deixando uma pergunta: por que razão o envelhecimento não é uma prioridade? Os governos, continua, conhecem o problema mas ainda não têm respostas.

Para tal, considera, primeiro é preciso perceber o conceito de longevidade. “É quando vivemos até aos 80? É algo que devemos cuidar desde que somos crianças? Para mim a longevidade é um desafio para a vida”, diz o professor, referindo que no Reino Unido existe uma comissão dedicada exclusivamente ao assunto. Também Portugal inaugurou na semana passada um Plano de Ação e um Centro de Competências para o envelhecimento ativo. Há, no entanto, um longo caminho a percorrer.

Claro que os desafios colocados pela transição demográfica não devem recair apenas sobre os poderes públicos. Tal como Portugal, o Reino Unido é dos países onde o envelhecimento tem sido mais acelerado. E da mesma forma que acontece no nosso país, os últimos anos de vida são acompanhados por uma forte carga de doença. Daí a importância de “envolver a sociedade”, de modo a que as pessoas comecem a pensar cedo na sua longevidade. “Temos de agir cedo para evitar as grandes causas de morte, como o cancro ou as doenças cardiovasculares”, afirmou o investigador.

Mais uma vez, o professor estabelece um paralelo com a covid-19. Porque a informação e o conhecimento são fundamentais para o aumento da literacia em saúde: “Na covid toda a gente estava a par do que eram os testes, os PCR, as vacinas, e houve um grande investimento público durante a pandemia. O envelhecimento global é semelhante à pandemia. Podemos poupar dinheiro através da prevenção. Prevenir em vez de curar, e isso pode ser feito nas escolas, escola, nos supermercados, por exemplo, educando para uma melhor dieta”.

Outro fator fundamental quando se fala de longevidade está relacionado com a idade biológica. Richard Siow faz algumas revelações surpreendentes: “Os atletas de alta competição, a quem associamos sempre uma saúde de ferro, muitas vezes têm uma idade biológica bastante superior à sua idade real. Um desportista está sujeito a tanto stress, que a sua idade biológica costuma ser bastante superior à que efetivamente tem. E isto pode aplicar-se a qualquer pessoa, alguém com 30 anos pode ter a idade biológica de uma pessoa com 50 ou 60.”

O professor chama ainda a atenção para um dado relevante: todos os organismos são diferentes, por isso o tratamento perante a doença deve ser “o mais personalizado possível”. “O que funciona para mim pode não funcionar para si. Tem de haver uma intervenção personalizada. Nas mulheres, quando estão na menopausa, o envelhecimento é mais acelerado. Trata-se de uma área de investigação fundamental, porque existem mais riscos de contrair doenças”.

O Longevity Med Summit que decorre hoje e amanhã, em Cascais, na Casa das Estórias Paula Rego, traz a Portugal alguns dos maiores investigadores internacionais na área do envelhecimento.

https://expresso.pt/longevidade/2023-05-04-Governos-devem-ser-educados-para-a-longevidade-286ab1fd

Ilustração da FGV

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