Aprendendo a Envelhecer: “a estranha mania de ter fé na vida”

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Escrevi esse tema em dois momentos. O momento lagarta pré- borboleta parecia algo imutável. Passados alguns anos e experiências, penso que há dias lindos de borboleta e dias difíceis de lagarta. Por isso, estou publicando os dois momentos num só que sou eu mesma.

Dias de expectativa, pré borboleta…

Envelhecimento Ativo é ter novas experiências. E observá-las. Imagino que inicialmente, o fato de envelhecer é ainda a fase Casulo da borboleta. indefinido e feio. O momento Borboleta do envelhecer é algo constatável. A alma encontrou uma outra morada que não é mais lugar intermediário, entre a juventude e a maturidade.Algo foi absolutamente definido como diferenciado. A alma encontrou a morada Envelhecer.

Nesse momento, a posso me sentir traída Fui despachada, sem consulta, para um país desconhecido, de cultura esquisita, de língua estrangeira. E sentir solidão.

O ser humano nasce adaptável, do contrário a própria gravidez seria só um fardo. E não é. Quando o bebê deixa o corpo da mãe para a existência individual e independente, todos sofrem durante esta mudança. A mãe sente o vazio, o pai,  como um estrangeiro, e o bebê o desconforto do novo ambiente. Felizmente, os meses seguintes inauguram um novo ciclo com novas descobertas, sustos, e uma colheita que deixa todos mais ricos.

Diante do inevitável e dos sinais de envelhecimento, a gente pode não querer pensar no assunto. E fugir também é uma saída bastante humana para qualquer confronto.

Ocorre que aí a gente perde. Não está verdadeiramente em lugar nenhum. Quem não está em lugar nenhum não acha companhia, parceiros e parceiras, identidade, memória, passado, fotos amareladas, músicas, cheiros das lembranças, o seu tesouro.

Quando criança, tinha um hábito que perdura até hoje. No dia do meu aniversário não abro os presentes e tenho costume de tomar um café da manhã bizarro. Pão francês ainda quente com manteiga e coca-cola. Este ano o meu aniversário foi especialmente precioso. Olhei no espelho e reconheci que minha alma e meu corpo finalmente pararam de guerrear um contra o outro. As novas experiências têm ocorrido com frequência e diante delas tenho uma atitude de observação respeitosa. Procuro acolhê-las com carinho. (Continuo a comemorar com pão com manteiga e coca-cola).

Envelhecer me transformou em alguém mais tolerante e amável. Com os outros e comigo mesma. Que procura manter um diálogo permanente entre as várias therezas christinas contidas em mim. E quando isso acontece, há uma profunda paz.

Dias de borboleta a lagarta, de lagarta a borboleta

(na quarentena) Manhã de sol no começo do outono. Serra do Rio.

Foi então que me surpreendi com clareza. Uma clareza amarelo sol.

Fiquei em paz  diante do pequeno recorte, peça-chave que completava o quebra-cabeça: entendendo  o meu envelhecer = Corpo idoso+coração adolescente +mente à procura de identidade. Sem idade?

Como viver em paz? Não sei. Vou descobrir.

Uma coisa aprendi. Não há rotina. Montanha russa.

Placidez de lago. Cegueira imobilizante. Congelado de sonhos. (uma conquista do envelhecer :aceitar aquilo que é). Ao observar o corpo impossível fugir da idade. Trabalho a + . Selecionar modelo, cor, composição da figura. Camiseta com manga, vestido longuete, jeans discreto. Camisas de manga comprida, sempre. Brincos minimalistas.  Nos dias ímpares.

E nos pares acordar em paz no condomínio. Delicadamente assumo o posto de síndica. Vivo todas as therezas. Sono? Fome? Preguiça? Paixão? Silêncio? Saudades? Esperança? Futuro? Morte? Eternidade? Amor? Deus? Medo?

Quantas vezes acontecem aquele cenário, os dias pares? Poucas. Talvez por isso me entregue a ele: voracidade e velocidade. Sem ressaca.

Abastecida pelas contradições e saciada na incoerência, aceito a rotina tediosa, a esterilidade da paixão, a sabedoria da falta de respostas. O inevitável deserto da solidão. Quantas vezes acontece este cenário? Muitas vezes.

“Sem esperança não surge o inesperado” ensinou o poeta Murilo Mendes.

Nesses longos intermináveis e cinzentos dias sobrevivo com o poeta: “sem esperança não surge o inesperado.”

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