As lições da atriz Vera Fischer, 72, _ ‘Últimos anos na Globo não foram legais’

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Vera com o filho Gabriel Grunje, de 31, e da nora, a atriz Leticia Catalá.

Vera Fischer, que esteve em cartaz como uma aristocrata decadente na peça ‘Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito’, fez o balanço de sua vida pós-TV Globo

 

ESTADÃO
Vera, em novos tempos, admirada por adolescentes: ‘Faço questão de tratar essas meninas muito bem’

Estrela de novelas nos anos 80 e 90, atriz avalia saída de emissora. Feliz no teatro, ela encarna uma aristocrata decadente.

Aos 72 anos, Vera Fischer é uma especialista em reinvenções. Foi das pornochanchadas dos anos 1970 ao estrelato nas novelas das décadas de 1980 e 1990 – driblando questões pessoais que colocavam sua credibilidade em xeque.

Foi no teatro, porém, em 1983, sob a direção de Aderbal Freire-Filho, em Os Desinibidos, que a artista adquiriu autoconfiança. “Nos ensaios, não conseguia me colocar no centro do palco, achava aquele lugar reservado para grandes atrizes e sabia que não era uma”, lembra Vera. “Tive uma gastrite nervosa até superar essa resistência e vi que só aprenderia meu ofício na prática.”

Hoje, não há espaço onde Vera se sinta mais à vontade do que no palco. Há dois anos, ela lota os teatros do País com o espetáculo Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito, dirigido por Tadeu Aguiar – a peça subiu ao palco do Teatro Renaissance, em São Paulo, no dia 12.

“Eu não entendo quando colegas da minha geração falam que sentem preguiça de fazer teatro. São profissionais que se acomodaram na televisão e se sentem inseguros a ponto de se autodepreciarem”, diz.

A comédia escrita por Eduardo Bakr é centrada na possessiva Dulce Carmona, aristocrata decadente em desespero diante da notícia de que o único filho vai se casar com uma mulher que ela nem conhece. “É uma personagem que tem tudo e nada a ver comigo, porque sou aquela que fala as verdades na cara, mas jamais persegui meus filhos e os criei para serem livres”, declara.

50 fãs-clubes Sucesso da peça levou a atriz às redes sociais e ela já tem 1,7 milhão de seguidores no Instagram

“Não entendo quando colegas falam que sentem preguiça de fazer teatro. São profissionais que se acomodaram na TV”

“Os artistas se levam a sério demais e eu prefiro rir de mim mesma”

“Não consigo aceitar gente desbocada ou que briga por qualquer coisa, como vejo entre meus colegas”

Vera Fischer, Atriz

BOLSO. Ao contrário de muitos colegas, Vera não tem vocação para o conformismo – e, segundo ela, nem bolso. O contrato com a Rede Globo terminou em março de 2020 e a estrela confessa que, apesar da instabilidade até então desconhecida, sentiu um certo alívio.

“Os meus últimos anos de Globo não foram legais, houve redução de salário e, quando raramente me chamavam, era para personagens sem qualquer nuance ou complexidade”, recorda. “Sei que os papéis mudaram de mãos e, na televisão, os protagonistas vivem conflitos de quem tem entre 20 e 50 anos. E eu jamais fiz parte de nenhuma turminha dentro da Globo, não sou o tipo de pessoa que bajula os outros.”

Vera, entretanto, reconhece que nunca foi mulher de economizar o dinheiro e aproveitou bastante a vida. Uma revisão orçamentária se impôs e Vera simplificou o seu cotidiano para melhor enfrentar o futuro. A primeira providência foi colocar à venda a cobertura de 240 metros quadrados próxima ao mar do Leblon e se mudar para um apartamento perto do verde do Jardim Botânico, na mesma zona sul carioca, com menos da metade do tamanho.

“No Leblon, criei meus filhos, vivi com meus dois maridos, mas, morando sozinha, me via num elefante branco que não fazia sentido”, revela. “Tenho artrose nos dois joelhos e nem escadas devo subir, então fiz de tudo para tornar a rotina mais leve e prática.”

Uma rígida fisioterapia entrou para a agenda da artista para controlar as dores nas articulações. O sapato altíssimo usado por Dulce Carmona no começo da temporada foi trocado por um outro de saltos mais baixos – em cena a atriz sobe e desce a escada várias vezes. “Foi até cogitado tirar a escada, mas não aceitei porque escadas têm um glamour, é só pensar em cenas marcantes das divas do cinema.”

O sucesso de Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito levou Vera a desvendar o universo desconhecido das redes sociais. Até 2019, nem celular usava. Não demorou para descobrir o Instagram e, seguida por 1,7 milhão de pessoas, publica as novidades da peça e postagens que despertam a curiosidade dos fãs, como fotos das arrumações de seus armários, poses com figurinos inusitados e até recomendações de filmes e livros. “Os artistas se levam a sério demais e eu prefiro rir de mim mesma.”

Vera conta com 50 fãs-clubes e, graças às redes sociais, soube que mais da metade deles foi fundada por garotas de 20 e poucos anos que a conheceram em reprises de novelas. Não é raro ser esperada por elas nos aeroportos das cidades aonde chega para apresentar a peça. “Fico tão feliz quando encontro pessoas que admiram o meu trabalho, faço questão de tratar essas meninas muito bem”, declara. “Aliás, trato todo mundo bem, não consigo aceitar gente desbocada ou que briga por qualquer coisa, como vejo entre meus colegas.”

Estadão

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