Demografia é destino?

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Artigo recente do médico epidemiologista (PHD Oxford) Alexandre Kalache para o jornal Folha de São Paulo, a propósito do novo Governo. Ele é presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil.

“Demografia é destino. E a menos que algo catastrófico aconteça, como uma pandemia ainda mais devastadora e mal administrada do que a do coronavírus entre nós (bom lembrar, 3% da população global e 11% do total de mortes) podemos prever com alto grau de exatidão o que nos aguarda.

É certo que a pandemia nos roubou alguns anos de expectativa de vida, sobretudo entre os mais pobres, as populações negras, indígenas, as que vivem nas periferias das grandes cidades. Ainda assim, uma criança nascida hoje espera viver 77 anos. Em 1970, não chegava a 57.

São 20 anos a mais de vida em cinco décadas, apesar das condições de vida tão precárias da maioria dos brasileiros. Basta dizer que 50% de nossa população nem acesso a esgoto sanitário têm.

Nas próximas eleições, seremos, de acordo com as Nações Unidas, a quinta maior população de idosos do mundo. Segundo o IBGE, em 2022 a proporção de pessoas com mais de 50 anos passou a ser maior do que as com menos de 30. Antes de 2030 a população 60+ será maior do que a de menos de 15 anos.

Não só mais e mais pessoas chegam aos 60 anos (atualmente, três a cada hora). O número médio de filhos que uma mulher tem ao chegar ao final de sua vida reprodutiva está abaixo das taxas de reposição há mais de 20 anos. Menos bebês, crianças, adolescentes, adultos jovens e cada vez maior o número de sexagenários.

Diante desses números, o governo entrante precisa pensar em políticas públicas que atendam de forma adequada e eficaz essa parcela cada vez mais numerosa da população. A ausência de sensibilidade administrativa para conduzir os serviços sociais, de saúde, de aprendizagem ao longo da vida, de uma cultura do cuidado teria um preço político e social de consequências imediato, não para um futuro distante. Do conjunto de políticas que reflitam esta realidade demográfica depende a viabilidade econômica do país em termos de produtividade e competitividade.”

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