Envelhecer mal = R$ R$ R$ R$ …

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Para Marcelo Altona, médico clínico geral e especialista em geriatria no Einstein, o Brasil já está atrasado quando o assunto é se preparar para o atendimento à população idosa no futuro. Boa parte dessa “culpa”, porém, está relacionada com a rapidez do envelhecimento no país. Ele conta que, na literatura, é possível encontrar dados e gráficos que comparam o tempo que demorou para as pessoas envelhecessem em países desenvolvidos e emergentes e que essa diferença é gritante. Na França, por exemplo, a porcentagem de idosos subiu de 7% para 14% em 120 anos. No Brasil, o mesmo crescimento aconteceu em pouco mais de 20 anos.

“É o chamado envelhecimento mal sucedido que onera o sistema de saúde, que faz com que haja mais demandas de hospitalização, mais cuidados das equipes médicas como um todo e mais gastos tanto no âmbito público como no privado. “Se você age precocemente, auxilia para que lá na frente esses custos sejam diminuídos. Eles ainda vão existir, mas queremos que sejam menores”, diz.

O impacto em custos para o sistema de saúde não se limita, inclusive, a um futuro mais distante. No Brasil, a Secretaria do Tesouro Nacional projetou, em 2020, a necessidade de gastos adicionais de R$ 50,7 bilhões em saúde entre até 2027 por conta do envelhecimento populacional. Para amenizar esse cenário, o geriatra enxerga algumas alternativas que consistem em tirar o hospital como a via final de todos os pacientes doentes.

De acordo com ele, chegou a hora de pensar em locais preparados para receber pacientes não passíveis de cura para cuidados paliativos. Há também a possibilidade de ambientes clínicos intermediários, que possam auxiliar pacientes que passaram por cirurgias ou que precisam de tratamentos específicos, mas que não necessariamente precisam estar em uma UTI ou quarto de hospital para o acompanhamento de sua recuperação.

“No pronto-socorro, o pensamento tem que ser o mesmo. O PS é lugar para quem está infartando, tendo um AVC ou um quadro de apendicite. Não é para ser ocupado por quem está com dor de garganta ou com o ouvido tapado por excesso de cera, como acontece muito. É também muito caro manter em UTI um paciente que não vai mais fazer exames e procedimentos, que precisa apenas de conforto. Outros lugares podem fazer isso, inclusive com mais qualidade. Um hospital é para centro cirúrgico, PS e UTI. Tudo o que é intermediário tem que ser avaliado se precisa estar em uma clínica ou até mesmo em casa, com as altas precoces, que são bastante efetivas desde que cercadas do devido cuidado”, avalia o geriatra do Einstein.

“Isso significa que, enquanto em países como França e Inglaterra foi possível desenhar um sistema de saúde que comportasse a nova demanda, o Brasil, como sociedade, não teve tempo, saúde ou políticas governamentais e sociais suficientes para entender esse novo cenário e se preparar para ele”, afirma. “E para um futuro mais distante, com um aumento ainda maior da população idosa, não há outra alternativa: é preciso evoluir para comportar as demandas que virão”.

O envelhecimento populacional é iminente no Brasil e no mundo: de acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2030, 1 em cada 6 pessoas terá mais de 60 anos, o que trará impactos nos sistemas de saúde, tanto público quanto privado. Investir na prevenção de doenças e na saúde integrada de jovens, adultos e idosos, além da criação de soluções menos onerosas ao sistema, como clínicas intermediárias que desafogariam os hospitais no futuro, e o uso da tecnologia são alguns dos caminhos apontados para garantir mais qualidade de vida e atendimento assertivo a essa população.

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2022, apontava que pessoas com 60 anos ou mais representavam mais de 14% da população brasileira, computando 31 milhões de pessoas. O estudo apontou também que, nos últimos nove anos, a população idosa aumentou quase 40% – em 2012, representava 11%. Até 2050, estimativas apontam que esse índice deve se aproximar de 30%.

Políticas

Martha Oliveira, que já ocupou cargos de direção na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e na Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), e que hoje é co-fundadora e CEO do Grupo Laços, que pensa a longevidade em saúde, comentou em sua participação no Futuro Talks que o Brasil começou a olhar para esse cenário agora, principalmente depois do chamado Movimento Silver, que contempla a valorização da pessoa idosa.

Segundo ela, o movimento trouxe visibilidade para o tema tendo como objetivo a mitigação dos preconceitos referentes a essa população. Junto a isso, veio a descoberta de que esse poderia ser, até mesmo, um mercado em ascensão. Mas não há ainda uma política pensando nesse envelhecimento.

“E não é só saúde, também é transporte, cidade, educação, diferentemente de outros lugares. Para se ter ideia, a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, montou um centro de longevidade dentro do instituto de saúde, com três pilares: mente, corpo e finanças, em que eles reciclam aquelas pessoas para a atualidade do mercado de trabalho. Na França há uma lei que obriga as empresas a dizer quantos idosos têm na carteira de trabalho. Nós não começamos nem a discutir isso ainda, então o que nós vamos fazer com 30% da nossa população daqui a alguns anos?”, questiona.

Outro ponto de atenção trazido por ela durante a conversa no Futuro Talks é que o idoso hoje, no Brasil, é tratado por hipermedicalização, situação que também já tem sido combatida no exterior. Na Europa, conta ela, um projeto chamado “Embrace” tem o intuito de diminuir a polifarmácia até 2025. Mas enquanto lá fora a preocupação gira em torno de cerca de cinco medicamentos, no Brasil a média de remédios de uma pessoa idosa é de 16:

“Isso leva, inclusive, a uma administração errada e confusa dos medicamentos, sem contar os impactos na saúde do próprio paciente. Algumas operadoras pagam pelo medicamento e depois pagam para tratar a iatrogenia que o medicamento causou. Nós perguntamos para os pacientes se eles têm médicos assistentes e eles respondem que têm mais de seis. Mas, se ele passar mal, não tem um médico para quem possa ligar. Então, ele tem seis, mas não tem nenhum. É preciso de alguém que veja esse paciente como um todo, causando uma mudança também nas receitas prescritas”.

Envelhecer mal =$$$$$$

Para Marcelo Altona, é o chamado envelhecimento mal sucedido que onera o sistema de saúde, que faz com que haja mais demandas de hospitalização, mais cuidados das equipes médicas como um todo e mais gastos tanto no âmbito público como no privado. “Se você age precocemente, auxilia para que lá na frente esses custos sejam diminuídos. Eles ainda vão existir, mas queremos que sejam menores”, diz.

O impacto em custos para o sistema de saúde não se limita, inclusive, a um futuro mais distante. No Brasil, a Secretaria do Tesouro Nacional projetou, em 2020, a necessidade de gastos adicionais de R$ 50,7 bilhões em saúde entre até 2027 por conta do envelhecimento populacional. Para amenizar esse cenário, o geriatra enxerga algumas alternativas que consistem em tirar o hospital como a via final de todos os pacientes doentes.

De acordo com ele, chegou a hora de pensar em locais preparados para receber pacientes não passíveis de cura para cuidados paliativos. Há também a possibilidade de ambientes clínicos intermediários, que possam auxiliar pacientes que passaram por cirurgias ou que precisam de tratamentos específicos, mas que não necessariamente precisam estar em uma UTI ou quarto de hospital para o acompanhamento de sua recuperação.

“No pronto-socorro, o pensamento tem que ser o mesmo. O PS é lugar para quem está infartando, tendo um AVC ou um quadro de apendicite. Não é para ser ocupado por quem está com dor de garganta ou com o ouvido tapado por excesso de cera, como acontece muito. É também muito caro manter em UTI um paciente que não vai mais fazer exames e procedimentos, que precisa apenas de conforto. Outros lugares podem fazer isso, inclusive com mais qualidade. Um hospital é para centro cirúrgico, PS e UTI. Tudo o que é intermediário tem que ser avaliado se precisa estar em uma clínica ou até mesmo em casa, com as altas precoces, que são bastante efetivas desde que cercadas do devido cuidado”, avalia o geriatra do Einstein.

Martha Oliveira lembrou na entrevista ao Futuro Talks, também, que em outros países o conceito intermediário e a metodologia do cuidado mais domiciliar já é aplicada. É o caso do movimento americano “Moving Health Home”, que começou em 2021, influenciado por empresas de saúde e tecnologia, e que estimula um deslocamento natural do cuidado dos ambientes que conhecemos hoje para onde o paciente está:

“A casa é um exemplo, mas pode ser o trabalho, a praça. Algumas projeções por lá até assustam. Eles falam que em três anos você não teria mais clínica de oncologia, mas um lugar para fazer radioterapia, um hospital para fazer a cirurgia e o resto onde a pessoa estiver. Tudo isso é possibilitado pela tecnologia, mas também por uma mudança cultural. De qualquer forma, esse movimento mudou o sistema de saúde. Aqui no Brasil nós fingimos que nada está acontecendo”.

 Futuro

Por outro lado, para Marcelo Altona, o boom do envelhecimento, apesar de trazer mais dificuldades, traz também oportunidades de gerar mudanças. Afinal, segundo ele, qualquer pequena intervenção voltada a alguma melhoria já é capaz de impactar o atendimento de maneira escalável.

“O Brasil precisa de um olhar para esse atendimento e de bons exemplos a serem seguidos. No Einstein, nós temos uma certificação, o selo pleno do Hospital Amigo do Idoso, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde. É uma certificação pública importante, criada por medidas governamentais que vão tentando adequar os hospitais a essas necessidades mencionadas. É importante mostrar para o mercado os serviços de saúde que o idoso demanda, a infraestrutura que é preciso ter para atendê-los. É começar com o básico para avançar para as inúmeras oportunidades que temos e que precisaremos colocar em prática. Outras instituições precisam correr atrás disso também e nós vamos utilizar a abrangência pública que temos para estender essa excelência focada na pessoa idosa para mais lugares”, diz.

Ainda na conversa do Futuro Talks, Martha disse que olhar bons exemplos também aparece como uma saída: “Estamos em um momento de mudança muito importante no Brasil. Acho que é importante pararmos um pouco e olharmos para fora para entender como foi para quem já viveu isso. Nós nunca somos os primeiros, essa é a única vantagem de sermos um país em desenvolvimento. Alguém já viveu o que estamos vivendo. Então, como podemos nos inspirar nos erros e acertos de quem já passou por isso? Acho que é um momento de buscarmos essas experiências. A segunda questão é que existem muitos assuntos que deixamos parados. É hora de revermos isso e agir para garantir um futuro melhor”.

Compacto do site  https://futurodasaude.com.br/envelhecimento-populacional-einstein/

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