Sala de Aula : Você pode “negociar” com o seu envelhecimento

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O professor Renato Peixoto Veras, especialista em Envelhecimento, é diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/UERJ). A UNATI foi a primeira instituição brasileira a focar no envelhecimento demográfico do País. Veras é também consultor da Organização Mundial de Saúde. Pesquisador do CNPQ. editor da Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (membro do Scielo), Consultor da OPAS/ANS para a produção de estudos e documentos relativos à criação de programas de promoção e prevenção em saúde.

Qual o perfil do idoso brasileiro?

O idoso não é uma categoria única. São 22 milhões ( 32, atualmente) de pessoas atualmente no Brasil e serão 32 milhões no final desta década.

Quais seriam as principais características desse universo?

Há idosos ricos, pobres, bem de saúde, chatos, colaborativos. Há pessoas antenadas, conhecedora de seus direitos e que tem projetos. Há os que aos 50 anos já são “velhinhos”.

Quantos anos o senhor tem?

68 anos. (obs: aparenta 10 anos a menos)

Em que categoria o senhor se inclui?

Estou entre aqueles que malham, se cuidam, cuidaram da alimentação, praticam esportes e contam com uma boa herança genética. Meus pais viveram mais de 90 anos. Então espero ter diante de mim 30, 35, 40 anos para trabalhar.

Quais são os principais mitos em relação ao envelhecimento?

A epidemiologia já definiu algumas características do idoso saudável. Ele/ela pratica uma atividade física, controla o estresse, tem uma boa alimentação, tem projetos para realizar, e não é usuário de álcool e tabaco. Agora, isso é o que reza a cartilha…

Que cartilha é essa?

Qualquer banca de jornal oferece publicações com uma espécie de cartilha de qualidade de vida para os idosos. Por ela, um gaúcho, por exemplo, que come churrasco, sobremesa e um chopinho está infringindo todos os “mandamentos”…

E como é que o senhor lida com uma situação assim?

Para começar, a gente não pode desconhecer as variáveis culturais e os hábitos de cada um. Então procuro negociar em cima deste fato.

Como assim: negociar?

Os hábitos de uma pessoa são parte dela. Por exemplo, na década de 70, os filmes mostravam os protagonistas como fumantes e isso agregava um enorme glamour a eles.

O “negociar” tem a ver com uma mudança de postura do médico?

O médico tem que abandonar a postura arrogante, punitiva e coercitiva e se aproximar do indivíduo com muita delicadeza.

É possível fazer uma pessoa mudar completamente sua alimentação e hábitos de vida?

É possível, mas isto pode acarretar uma depressão porque foi-lhe tirado todos os prazeres. O fumante sente prazer em fumar, há prazer no consumo social de álcool e o chamado “bom garfo” gosta de gorduras e condimentos…

Então, o que fazer?

Propor uma mudança de postura, descobrir com o paciente outras formas de prazer ao mesmo tempo em que se propõe a diminuição da quantidade desses agravos.

Esta proposta pode se tornar parte de uma política pública?

Bem, os planos de saúde estão propondo num documento bonificações ao segurado que desenvolver atividades positivas, por exemplo, começar a caminhar regularmente. Isso já é um começo.

 

Thereza Christina Jorge

 

Esta postagem é uma republicação. O Professor Renato Veras foi o nosso primeiro entrevistado ainda no  vivacombeleza.blogspot.com (09/2011). Suas informacões foram tão importantes para os leitores e também para mim que, oito anos depois, salvo o número de idosos, (atualmente em cerca de 31 milhões) as respostas do mestre são irretocáveis. É uma honra ser sua contemporânea. TCJ

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