Pare um instante para visualizar o local de que mais gosta no mundo mas que exige que suba uma inclinação. Talvez seja a escadaria da Praça de Espanha em Roma ou o Palácio de Potala no Tibete. Ou pode ser uma colina serena num parque local. Ou a fila mais alta do estádio da sua equipa preferida. Agora, imagine que chegou ao topo. Olhe para baixo para as outras pessoas que caminham na sua direcção. Verá dois tipos de pessoas. Um grupo enérgico de pessoas em boa forma física que sobem tão facilmente como se fossem cangurus saltitantes e enérgicos. Sorriem, riem, praticamente não suam e usufruem da caminhada. Estão entusiasmadas em chegar ao destino e, apesar de este exigir algum esforço, mostram-se ansiosas para experimentar o que as espera quando chegarem. Depois, avista também o grupo que está a lutar. É constituído por aqueles que têm de parar e recuperar o fôlego dez vezes durante a subida. Ainda não chegámos? O leitor provavelmente identifica-se mais com um destes grupos do que com o outro. Além da velocidade e da facilidade com que se deslocam, sabe qual a diferença entre os dois? Pode ser o seu tamanho ou a idade, sim. No entanto, costuma estar muito ligado ao estado geral da sua saúde. É improvável que os responsáveis sejam os genes com que nasceram. É muito mais provável que cada grupo reflicta as escolhas de estilos de vida.

“The Great Age Reboot” é o título que eu e os co-autores Peter Linneman e Albert Ratner demos ao nosso novo livro, publicado agora pela National Geographic. “The Great Age Reboot” é também a expressão que usamos para a transformação que estamos a identificar na saúde e na medicina, que nos permitirá viver mais e viver mais jovens. Esses desenvolvimentos mudarão exponencialmente a nossa sociedade, a nossa economia e o nosso futuro. Para se preparar para esta grande “era”, tem de estar disposto a mudar – não apenas para se tornar saudável e permanecer saudável, mas também para ter saúde suficiente para se “reparar” quando forem necessárias “reparações”.

viva mais e rejuvenesça

“Reiniciar” a juventude. A ciência e a tecnologia revolucionarão a nossa capacidade de viver mais e melhor. Essa é a premissa de partida do livro “The Great Age Reboot: Cracking the Longevity Code for a Younger Tomorrow”, escrito por Michael Roizen com Peter Linneman e Albert Ratner. O livro foi publicado em Setembro pela National Geographic e ainda não tem edição portuguesa.

Há certamente um futuro fantástico pela frente. Porém, para o apreciar e saborear a longevidade, terá de funcionar agora como um engenheiro genético. O lado positivo? Se quiser, poderá literalmente mudar o destino médico da sua família.

Nos Estados Unidos, cerca de 40% das mortes prematuras, definidas como tendo ocorrido antes dos 75 anos, estão relacionadas com estilos de vida, ou seja, comportamentos que podemos mudar. Estilo de vida e genética estão interligados, dado que as escolhas de estilo de vida influenciam a forma como muitos dos nossos genes funcionam e, portanto, como funciona o nosso corpo.

Estudos de expressão genética humana mostram que, se optarmos por determinadas mudanças no estilo de vida, influenciaremos o processo através do qual os nossos genes se “ligam” ou “desligam”. Na verdade, as nossas escolhas podem influenciar cerca de 1.200 dos 1.500 genes que estão activados e provavelmente podem influenciar os outros 21 mil estimados que estão desactivados.

Por exemplo, alguns homens, depois de colocarem em prática alterações de actividade física, controlo do stress e dieta, conseguiram desactivar genes associados ao desenvolvimento do cancro da próstata e activar um gene que produzia uma proteína que provoca a autodestruição das células cancerígenas.

O mesmo princípio aplica-se ao cancro do cólon e da mama: mudanças no estilo de vida activaram os genes que combatiam o cancro e desactivaram os genes que o promoviam.

A ciência assegura-nos que, por volta dos 60 anos, 75% dos resultados de saúde são determinados pelas nossas escolhas e estilo de vida. Isto é auto-engenharia genética: cada acção saudável activa genes que promovem a juventude e desliga genes que fazem envelhecer.

Este processo é o resultado de milhões de anos de evolução. Boas escolhas (e as proteínas que se desenvolvem por causa delas) geram mais proteínas boas e a activação de genes maus dá origem ao funcionamento de mais genes maus e destrutivos.

Temos a capacidade de mudar a forma como o corpo funciona e reage e, em última instância, quão saudáveis somos e quanto tempo podemos viver. Existem três razões principais pelas quais a procura de patamares optimizados de saúde através do estilo de vida é um imperativo.

Este é o momento de construir uma base sólida. Provavelmente, conhece pessoas que sobreviveram a uma doença terrível ou a um acidente, de quem se disse que a sua força física e mental preexistente lhes fortaleceu os corpos para a batalha e os tornou mais bem equipados para suportar o stress. Isto verificou-se na recente pandemia de COVID-19: mais de 80% das mortes por COVID-19 ocorreram em pessoas com mais de 65 anos, e os casos graves são mais prováveis em pessoas com condições preexistentes, como obesidade, diabetes, doenças cardíacas, doenças pulmonares crónicas e imunodeficiências.

O mesmo pensamento aplica-se quando discutimos a longevidade, ou seja, escolhas saudáveis ajudam a prevenir doenças crónicas e preparam-nos para uma vida longa. Quanto melhor for a nossa forma física, maiores serão as hipóteses de os novos procedimentos anti envelhecimento atingirem os melhores resultados com menos complicações. Mais fortes no início significa que seremos mais fortes durante toda a corrida e até à meta.

Não é claro quantos “reboots” podem ser feitos.

Talvez num mundo utópico do século XXV, exista um labirinto que permita que se entre numa cabina, se apertem uns botões e se apaguem todos os cigarros que se fumaram, todos os sofás onde se molengou, todos as batatas que já se fritaram. Mas, no futuro próximo, é muito mais provável que as hipóteses de reinicialização sejam limitadas. A capacidade de maximizar a sua eficácia dependerá do compromisso para melhorar a nossa biologia através de meios comprovados: nutrição, actividade física, sono, inibição de fumar e controlo do stress.

O seu cérebro precisa de si. O cérebro humano continua a ser a fronteira biológica final. Mesmo que a ciência permita a correcção das nossas células, genes e outros mecanismos que permitem o funcionamento dos nossos corpos, quando o cérebro parar, você também parará. Para potenciar a promessa de uma juventude mais duradoura, é imperativo que faça a auto-engenharia dos seus interruptores de DNA para proteger o seu cérebro, e os passos são os mesmos que devem ser seguidos para proteger o resto do corpo.

As acções descritas a seguir demonstraram maior influência sobre a função biológica. Não vai conseguir “portar-se bem” sempre. A longevidade depende mais do conjunto do que se faz na maior parte das vezes. Como podemos então chegar a melhores decisões agregadas?

Vivemos uma época de hiperabundância de fontes de informação e temos o sector de saúde mais medicamente avançado de sempre. No entanto, dois terços dos norte-americanos estão acima do peso ideal ou obesos e milhões morrerão ou adoecerão com problemas de saúde relacionados com o estilo de vida, incluindo doenças cardíacas, cancro do pulmão, AVC, diabetes e demência (a ciência comprova que os estilos de vida saudáveis estão associados a uma redução de 60% do risco de desenvolvimento de demência).

Não é fácil encontrar a forma certa de nos motivarmos para fazer melhores escolhas de estilo de vida. As sociedades ocidentais exportam com muita eficiência os seus maus hábitos para quase todos os outros países. No entanto, algumas experiências também funcionaram. Existem vários factores comuns nos indivíduos que concretizam mudanças positivas no estilo de vida: Atingem valores “normais” (o termo para métricas de saúde satisfatórias ou comportamentos de saúde e bem-estar) em seis indicadores.* Os corpos mais saudáveis são aqueles que atingem as metas estabelecidas pelos seis indicadores-chave listados no rodapé desta página. É por este motivo que o nosso barómetro para o sucesso da saúde é composto por “6 Normais + 2”, ou seja, pontuações normais nesses seis indicadores e dois outros factores: consultar com regularidade um médico de família e manter a vacinação actualizada. Usam tecnologia. O mercado está repleto de todo o tipo de dispositivos de monitorização que fornecem feedback em tempo real sobre as nossas escolhas saudáveis. Podemos monitorizar o número de passos, os minutos de actividade, a frequência cardíaca, as calorias, a qualidade do sono e muito mais. Embora nem todos precisem ou gostem destas ajudas, a tecnologia pode fornecer uma excelente forma de motivação ao estabelecer índices de referência e metas. E pode ajudar a tentar alcançar esses objectivos, especialmente quando combinada com o incentivo de um treinador. O toque humano é fundamental para tornar a tecnologia significativa e as mudanças sustentáveis.

Potenciam incentivos financeiros. É uma reacção humana básica: os incentivos financeiros significativos foram sempre impulsionadores das mudanças de comportamentos. Grande parte da responsabilidade em estabelecer esses incentivos resume-se à forma como o governo e as indústrias recompensam os funcionários que permanecem ou ficam saudáveis.

“Reiniciar” a juventude

A ciência e a tecnologia revolucionarão a nossa capacidade de viver mais e melhor. Essa é a premissa de partida do livro “The Great Age Reboot: Cracking the Longevity Code for a Younger Tomorrow”, escrito por Michael Roizen com Peter Linneman e Albert Ratner. O livro foi publicado em Setembro pela National Geographic e ainda não tem edição portuguesa.

Podemos melhorar a nossa situação financeira com uma saúde melhor, começando com encargos médicos mais baixos, maior produtividade no trabalho, uma carreira mais longa e também menor preocupação com as repercussões das doenças pandémicas.

Têm um ou mais companheiros neste “projecto”.

É necessário um ecossistema integrado na própria tribo, uma comunidade de pessoas que se apoiam umas às outras na procura dos seus objectivos. Pode ter várias formas: uma pessoa, um pequeno grupo de pessoas ou uma grande tribo com muitos indivíduos em busca dos mesmos objectivos. Muitos de nós podem ter uma combinação destas formas de apoio durante o desenvolvimento da jornada em direcção ao bem-estar. Ter um parceiro (ou parceiros) durante o processo de alteração de comportamento é a variável que mais favorece o sucesso.

Fazem as pequenas coisas que são importantes

Ao ser submetido a uma artroplastia  * de substituição da anca aos 59 anos e novamente aos 64, o co-autor Peter Linneman estava em forma, fez fisioterapia antes e depois da cirurgia e, como resultado, foi capaz de recuperar rápida e totalmente. O fisioterapeuta de Peter explicou que o cenário habitual da maioria dos pacientes é estar debilitado na altura da cirurgia e ignorar a terapia pós-operatória. Ignoram provavelmente a importância dessas fases por pensarem que não são assim tão importantes para a recuperação. Essa é uma alegoria da forma como muitos de nós encaram a saúde: porquê preocupar-me com as pequenas coisas? Será que são assim tão importantes? Na verdade, cada pequena decisão conta e é ainda mais importante à medida que se vive mais.

A ciência está prestes a oferecer-nos o Jardim do Éden. Uma oportunidade não apenas de uma vida longa, mas também de uma juventude longa, ou melhor, de prolongar os anos de juventude.

*Indicadores de boa saúde

Seis indicadores decisivos do estado de saúde ideal que promove a longevidade:

1. Pressão arterial sistólica inferior a 120 mmHg e diastólica inferior a 80 mmHg

2. IMC (índice de massa corporal: rácio altura/peso) inferior a 27 ou um rácio cintura/altura de 0,40 a 0,55

3. Colesterol LDL inferior a 70 mg/dL

4. Glicemia em jejum inferior a 106 mg/dL

5. Urina sem cotinina (indicador de consumo de tabaco)

6. Desenvolvimento de programas de gestão de stress

*artroplastia -uma cirurgia que tem como objetivos substituir uma articulação “doente” por uma nova articulação (prótese). A articulação danificada é substituída por componentes metálicos e plásticos, compondo um novo joelho seguro e

,,,
National Geographic