Aprendendo a Envelhecer _ Minha “dezembrite” veio forte este ano

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É normal sentir tristeza nesta época do ano, dizem especialistas

Muita gente diz sofrer de ‘dezembrite’, ficando mais estressada e ansiosa na época de festas

A “dezembrite” chega com as festas e some em janeiro. No meio-tempo, deixa as pessoas ansiosas e estressadas.

Em cada 10 americanos, 6 acham o Natal mais estressante do que um trabalho, diz pesquisa

Assis Valente é o autor da mais bela canção de Natal de todos os tempos. A mais bela e a mais triste também. “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel…”, diz um trecho da letra. Valente compôs Boas Festas na tarde de 24 de dezembro de 1932. À época, o compositor baiano, então com 24 anos, ganhava a vida no Rio de Janeiro fazendo próteses dentárias. Quando sobrava tempo, compunha sambas e marchinhas.

A inspiração, conta o escritor Gonçalo Júnior na biografia Quem Samba Tem Alegria, veio do quadro de uma bailarina na parede do quarto de pensão onde Valente morava em Niterói, no Rio de Janeiro.

Com saudade de casa, o sambista pegou uma folha em branco e começou a rabiscar os primeiros versos: “Anoiteceu / O sino gemeu / E a gente ficou / Feliz a rezar…”. De feliz, porém, a canção não tem nada: “Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem / Com certeza, já morreu / Ou, então, felicidade / É brinquedo que não tem”.

Sentir-se triste no Natal, como Assis Valente em 1932, é mais do que normal. É o que garantem os especialistas em saúde mental. “A data representa o fim de um ciclo e todo fim de ciclo gera tristeza”, afirma a neuropsicóloga Jô Alvim.

“Nesta época, as pessoas gostam de fazer um balanço do ano que passou. O problema é que, na maioria das vezes, pensam mais nos projetos que não realizaram do que nos que conquistaram.

Para piorar, alguns familiares não estarão presentes. Morreram, mudaram de cidade ou, no caso dos filhos, se casaram e vão comemorar com a família do cônjuge.”

No Brasil, a síndrome de fim de ano já ganhou até apelido: dezembrite, fusão da palavra “dezembro” com o sufixo “ite”, que significa inflamação aguda ou crônica. A dezembrite ainda não faz parte do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês), a “Bíblia da psiquiatria”, muito menos da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), que engloba quase 55 mil códigos, entre sintomas, lesões e anomalias.

Mas já existem estudos, no Brasil e no exterior, que ajudam a entender o problema. Uma pesquisa da ISMA-BR, associação internacional que estuda a prevenção e o tratamento do estresse, revela que 75% das pessoas se sentem estressadas e irritadas nesta época do ano. Entre os sintomas, os entrevistados relataram tensão (80%), ansiedade (70%) e insônia (38%). O estudo ouviu 678 pessoas de 25 a 55 anos.

“No Natal, a expectativa é que todos estejam felizes. Mas, o que fazer se muitos não têm o que comemorar?”, indaga a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR. “Enquanto os otimistas tendem a avaliar o que deu errado na vida deles e fazem correções de percurso, os pessimistas limitam-se a pensar que nada dá certo mesmo e que a vida é extremamente injusta.”

HOLYDAY BLUES.

O fenômeno não se restringe ao Brasil. Nos Estados Unidos, a síndrome de fim de ano é conhecida por outro nome: Holiday Blues (tristeza do feriado). Lá, como em todos os países do Hemisfério Norte, o baixo astral é agravado pelo clima frio.

Um estudo da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) adverte: o Natal e o Réveillon podem impactar negativamente a saúde de quem não curte o período de festas. Seis em cada dez americanos acham o feriado mais estressante do que o trabalho. E 79% estão mais preocupados em comprar “lembrancinhas” de Natal do que em cuidar da própria saúde. Durante as festas de fim de ano, 69% relataram dificuldade para se alimentar bem, 64% disseram que não praticam exercícios físicos e 56% não têm uma boa noite de sono.

Do outro lado do Atlântico, a situação não é muito diferente. Uma pesquisa da ONG Samaritans, uma espécie de Centro de Valorização da Vida (CVV) do Reino Unido, apontou que 48% dos entrevistados confessaram se sentir deprimidos no feriado natalino. Das 140 pessoas ouvidas, 45% admitiram sentir preocupação, 37% se queixaram de solidão e 30% atribuíram o estresse a relacionamentos malsucedidos ou a dificuldades financeiras.

TRISTEZA.

“A tristeza é algo perfeitamente natural. A qualquer momento, em qualquer lugar, podemos sentir tristeza. Faz parte da vida e é tão importante quanto a alegria. Desperta profundas reflexões”, observa o psicólogo Gustavo Arns, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

O Natal e o réveillon podem levar a sentimentos diferentes. Natal é tempo de montar presépio, reunir a família e trocar presentes. “Só quem gosta de Natal é criança, porque ganha presente. Adulto não gosta porque dá saudade. E saudade dói”, afirma o psiquiatra e psicanalista Luiz Alberto Py.

Já no réveillon as pessoas costumam, entre outras tradições, vestir branco e pular sete ondas. “É a semana mais bipolar do ano: começa com a depressão do Natal e termina com a euforia do réveillon”, brinca Py. •

O Estado de São Paulo

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