CI: idade não é único indicador da saúde e independência

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A idade cronológica, marcada por datas e medida pela passagem do tempo, nem sempre revela o estado do organismo de uma pessoa, sendo incapaz de dizer por si só o quanto este se encontra envelhecido ou conservado. Para captar a grande heterogeneidade da população idosa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs, em relatório de 2015, um novo indicador: a capacidade intrínseca (CI), conceito holístico que visa uma melhor compreensão das diferentes vias de envelhecimento.

Levando em conta capacidades físicas e mentais cruciais para que os idosos mantenham vidas ativas, a CI compreende cinco domínios: cognitivo, psicológico, sensorial, locomotor e vitalidade. Nesse contexto, um novo estudo liderado pelo Laboratório de Investigação Médica em Envelhecimento (LIM/66), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), confirmou a validade e a confiabilidade da CI para medir o envelhecimento saudável no Brasil. Os achados foram publicados em maio no periódico Lancet Regional Health – Americas.

“Nosso trabalho é o primeiro a validar esse indicador numa grande amostra populacional de adultos brasileiros. Nesse estudo mostramos que a capacidade intrínseca está associada com a manutenção da funcionalidade”, diz a Profa. Claudia Kimie Suemoto, Associada da Disciplina de Geriatria da FMUSP.

A análise incluiu dados de 7.175 participantes com 50 anos ou mais do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). Os índices dos domínios do CI foram determinados por meio de questionários e testes de desempenho físico. Em geral, os indivíduos apresentaram estado de saúde heterogêneo e a idade cronológica demonstrou-se insuficiente para determinar sua condição de bem-estar à medida que envelhecem.

”Nossos achados demonstram que a capacidade intrínseca associa-se de maneira fraca com a idade cronológica, indicando que mesmo indivíduos de idade avançada podem manter-se saudáveis, independentes e ativos”, diz o Dr. Márlon Aliberti, pesquisador do LIM/66 da FMUSP.

O estudo também concluiu que a CI está relacionada mais fortemente com a independência nas atividades da vida diária (ADL em inglês), como vestuário e banho, atividades instrumentais (IADL), como compras e preparo de alimentos, e avançadas (AADL), como hobbies e trabalho. “Portanto, capacidade intrínseca, mais do que idade cronológica, capta aquilo que mais importa para saúde das pessoas à medida que elas envelhecem”, diz o Dr. Aliberti.

Os próximos passos, segundo o pesquisador, devem incluir o estabelecimento de uma medida mais simples, que possa ser implementada amplamente na prática clínica, e a exploração das interações entre a capacidade intrínseca e fatores sociodemográficos.

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