A realidade pode ser muito pior. Na live sobre O Brasil após a Pandemia, em abril passado, organizado pela Fiocruz, a apresentação da maior autoridade em envelhecimento demográfico brasileiro, a pesquisadora do IPEA, Ana Amélia Camarano, trouxe tristes conclusões sobre o sub-registro de dados em consequência do adiamento do Censo de 2021. Ela também questiona o termo longevidade para brasileiros e brasileiras que estão envelhecendo com qualidade de vida. A seu ver, o correto é afirmar que o Brasil conseguiu a democratização da sobrevivência.
Algumas informações de Ana Amélia Camarano na live da Fiocruz:
Óbitos de 2019 a 2021
Total 412.496. Idosos representaram 674.6% deste total. Por sua vez, a maioria de óbitos foi de idosos do sexo masculino.
A renda do idoso no orçamento da família diminuiu. De 78.6% para 68.6%.
Mais de um terço dos lares brasileiros dependem da renda de idosos.
Ficar velho/velha numa sociedade dominada demograficamente por pessoas mais jovens é diferente de ficar velho/velha numa sociedade demograficamente dominada por velhos.
O adiamento do Censo de 2021 teve consequências:
_sub registro de óbitos e problemas de diagnóstico da causa de morte
_sub registro de nascimentos, atraso de registros
_ lacuna na informação sobre idosos residindo em domicílios coletivos
_ Dificuldades de se pensar
“Na história quando se pensa que acontecerá o inevitável, ocorre o imprevisto. Fernando Henrique Cardoso, _1985
“Esta crise nos lembra uma vez mais que devemos nos preparar para o imprevisto.” Edgar Morin, 2021.
A entrevista da cientista social pode ser vista no YouTube, https://youtu.be/_ZmYMv3NtgU.
Na faixa etária acima dos 60 anos, a taxa de brasileiros que tiraram a própria vida saltou de 6,8 a cada 100 mil habitantes em 2010 para 7,8 em 2019, de acordo com boletim epidemiológico divulgado no ano passado pelo Ministério da Saúde. Neste período, os idosos representaram 15,2% do total de 112.230 mortes por suicídio no país. O estudo se baseia em dados registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Discutir a saúde mental de quem tem 60 anos ou mais torna-se ainda mais relevante em decorrência do número crescente de idosos. Os brasileiros nessa faixa etária representavam 14,7% da população em 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em julho. Em números absolutos, são 31,2 milhões de pessoas. O mesmo levantamento aponta que o contingente de idosos habitantes no Brasil aumentou 39,8% nos nove anos anteriores.
Até o final deste mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, divulga a campanha Setembro Amarelo, com o objetivo de conscientizar e prevenir o suicídio.
No caso particular dos idosos, um dos fatores motivadores para a consumação do ato envolve o chamado sentimento de “menos valia”, segundo especialistas. Isso ocorre quando há a noção persistente de que a pessoa se tornou um peso para a família, seja por limitações físicas, econômicas ou a convivência com doenças crônicas e incapacitantes. O isolamento social, agravado pela pandemia de Covid-19, passou a entrar nessa conta em tempos recentes. (Compacto)
Setembro Amarelo: suicídio cresce entre idosos no Brasil e preocupa especialistas, destaca O Globo