Imigrantes idosos em Nova York enfrentam dificuldades após anos em busca do ‘sonho americano’: ‘Não tenho futuro’

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Estrangeiros são maioria da população da cidade com 65 anos ou mais; muitos não possuem reservas financeiras, e alguns lidam com o isolamento social

Francisco Palacios (foto), que cresceu em uma família pobre no Equador, chegou à cidade de Nova York em 1986. Seu objetivo era ganhar o suficiente para que, um dia, conseguisse se aposentar em sua terra natal. No entanto, após ficar preso em empregos mal remunerados em restaurantes, canteiros de obras e uma lavanderia, o equatoriano, agora aos 70 anos, não tem economias e está apenas tentando sobreviver. Nos dias úteis, ele permanece em uma esquina no Queens na esperança de que alguém o contrate para pintar casas. Ele disse sentir que ainda tem “a energia e a força para trabalhar”, embora acredite que não possua futuro.

Imigrantes idosos como Palacios agora compõem um pouco mais da metade da população de Nova York com 65 anos ou mais. Desde 2010, os números aumentaram mais que o dobro da taxa de idosos nascidos nos EUA, principalmente devido ao envelhecimento de imigrantes que chegaram décadas atrás como jovens adultos e trabalhadores. Muitas dessas pessoas afirmam nunca ter esperado envelhecer na cidade — e, após anos dizendo que irá embora “amanhã”, não estão preparados para essa realidade quando ela chega. Outros ficaram por não conseguir imaginar deixar os filhos e netos que têm no local.

A organização tem tentado ajudar Palacios, o idoso pintor de casas, que espera na calçada com outros trabalhadores diários mesmo quando suas pernas doem e ficam dormentes. Ele, que não tem documentos, disse que não voltou para o Equador desde que saiu há quase quatro décadas porque teme que não seja permitido retornar aos Estados Unidos. Lágrimas escorriam por seu rosto ao lembrar que nunca teve a chance de ver seus pais novamente e teve que perder os funerais de ambos.

— Eu vim em busca do sonho americano — disse ele. — [Mas acabei com] arrependimento de que tudo que tentei fazer aqui não deu certo.

O crescimento rápido da população de 65 anos ou mais na cidade, hoje estimada em 1,4 milhão, é impulsionado pelos imigrantes idosos. De acordo com uma análise do censo pela Social Explorer, empresa de pesquisa de dados, em 2022 havia 713 mil imigrantes idosos. O número representa um aumento de 57% desde 2010. Durante o mesmo período, a quantidade de residentes idosos nascidos nos EUA aumentou 25%, totalizando 678 mil. Os idosos que nasceram em outros países tornaram os bairros da cidade mais diversos, e ajudaram a manter a economia em movimento, embora hoje ameacem sobrecarregar os serviços sociais limitados em uma cidade que já enfrenta a crise imigratória.

Ainda que muitos idosos enfrentem dificuldades financeiras e isolamento social, os imigrantes podem ser os mais afetados, segundo especialistas em imigração. Eles tendem a ter menos educação do que os nascidos nos Estados Unidos, e são menos propensos a ter renda de aposentadoria ou investimento, apontou a análise do censo. A renda anual média para um imigrante idoso foi de US$ 14,5 mil (R$ 70 mil), quase metade dos US$ 30 mil (R$ 145 mil) para um idoso americano. Sem reserva financeira, alguns imigrantes idosos também recebem ajuda limitada devido a barreiras linguísticas e culturais, e os que não possuem documentos não têm direito a receber nenhum valor.

A NYC Aging, uma agência da cidade com um orçamento anual de US$ 523 milhões (R$ 2,5 bilhões), continuará a fornecer refeições gratuitas e outros programas para idosos, mesmo quando a cidade enfrenta uma crise fiscal, incluindo os custos de abrigar migrantes que buscam asilo, disse Edgar Yu, um porta-voz. Mas isso não é suficiente para atender às necessidades da crescente população idosa, disse a vereadora Crystal Hudson, uma democrata do Brooklyn que, como presidente do comitê de envelhecimento do conselho, apontou que menos de 1% do orçamento geral da cidade é gasto em serviços para idoso

Compacto de O Globo

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