Aprendendo a Envelhecer _ Para tempos de incerteza

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Amei este conteúdo da BBC Future. É muito inteligente e útil. Se há um momento incerto dentro das incertezas contemporâneas é o envelhecimento. Para ricos e muito mais para os não ricos.A autora é Amanda Ruggeri é uma jornalista sênior da BBC Future. Ela está no Twitter como @amanda_ruggeri.

Se você alguma vez já viu acontecer com qualquer outra pessoa, porém, pode absolutamente acontecer com você, alertou Sêneca.

“Deveria me surpreender se os perigos que sempre me cercaram um dia me alcançarem?” Ainda assim, muitos recusam-se a pensar em ou planejar para esse tipo de desfecho.

“Um número grande de pessoas planeja uma viagem marítima sem pensar numa tempestade”, escreveu ele. “É tarde demais para a mente se equipar para enfrentar perigos uma vez que eles já estejam lá. ‘Eu não achei que isso fosse acontecer’ e ‘Você poderia ter imaginado que poderia se desdobrar nisso?’ Por que não, nunca? Saiba, então, que qualquer condição pode mudar, e qualquer coisa que aconteça com outras pessoas pode acontecer com você também.”

Segundo os estoicos, esses tipos de bloqueios nos conduzem a enormes decepções. Ao considerar os piores desfechos possíveis, nós nos sentimos mais preparados emocionalmente para encará-los quando eles chegarem.

Claro, nós provavelmente então nos prepararemos de forma prática também – provavelmente deixando as coisas um pouco mais fáceis caso um desastre realmente ocorra. Um exercício ainda adotado em escritórios e departamentos governamentais por todo o mundo, hoje em dia, é frequentemente chamado de “premortem”. Nos tempos antigos, tinha um nome mais interessante: era um “premeditatio malorum” (premeditação de males).

Mas não se preocupe demais

Planeje para o futuro, sim, mas não fique preso nele. Tenha confiança em sua própria habilidade para enfrentar qualquer circunstância lançada na sua direção – da mesma forma com que você sempre teve.

“Não deixe que o futuro o perturbe. Você chegará nele, se for isso que você precisa fazer, possuído da mesma razão que você aplica agora no presente”, escreveu Marco Aurélio.

Em vez disso, concentre-se no presente momento. Isso inclui praticar gratidão pelo que nós temos agora, não focar naquilo que gostaríamos de ter (ou evitar) no futuro.

Atenha-se a fatos simples

Ele também alertou contra acrescentar quaisquer suposições adicionais para qualquer coisa que você veja. “Não elabore para si mesmo além do que as impressões iniciais lhe informam”, escreveu o imperador-filósofo.

“Eu vejo que meu filho está doente. Isto é o que eu vejo: eu não vejo que ele está em perigo.” Considere isso um antigo alerta contra catastrofismo, uma das “distorções” contra as quais terapeutas comportamentais cognitivos ajudam pacientes a se proteger.

Ajude outros e peça ajuda – mas se proteja emocionalmente

Como os platonistas, os estoicos diziam que nosso principal objetivo em vida é nos sobressairmos em sermos humanos. A natureza humana é, acreditavam eles, social – tanto que a justiça (a qual, na filosofia antiga, vai além do conceito de ‘equidade’ para incluir nossas obrigações perante outras pessoas e nossas comunidades) era uma de suas principais virtudes.

Ajudar outros, portanto, era importante. Também era, porém, nos protegermos contra adotar o sofrimento ou a raiva de outra pessoa tão apaixonadamente quanto se ela fosse sua própria. Sem dúvida, demonstre simpatia com alguém que esteja consternado, escreveu Epicteto. “Mas não se solidarize com todo seu coração e sua alma.”

Também não tenha vergonha de pedir por ajuda, escreveu Marco Aurélio: às vezes, é a única maneira de você completar a “principal tarefa” de sua vida – fazer a sua parte para contribuir da melhor forma que você puder.

Não fuja de sentimentos difíceis

Apesar do desdém pelas “paixões”, como pesar, e seu conselho para que não nos deixemos ser sugados por elas, os estoicos entendiam muito bem que, para a maioria de nós, esses sentimentos ainda emergiriam.

Da mesma forma com que oradores modernos como Brené Brown aconselham evitar “entorpecer” emoções negativas, os estoicos argumentavam que nós não deveríamos tentar “enganar” sentimentos como tristeza e raiva. Sair de férias ou mergulhar no trabalho os afasta apenas temporariamente. Quando eles voltarem, provavelmente voltarão mais fortes.

“É melhor conquistar nosso pesar do que enganá-lo”, escreveu Sêneca. Mas como? Hoje psicoterapeutas podem sugerir “sentir os sentimentos”, processando-os e falando sobre eles. Tara Brach, uma conhecida psicóloga clínica e guia de consciência, sugere a “pausa sagrada” – dar um tempo para simplesmente parar e se conectar com nossas emoções, mesmo no meio de um surto de raiva ou tristeza. Para Sêneca, a solução é simplesmente estudar filosofia.

Pense no longo prazo e lembre-se que ele também vai passar

Um exercício que Marco Aurélio sugeriu foi imaginar que você está olhando, do alto, para a Terra, vendo tudo que acontece. Então imagine a longa linha de tempo da história: as pessoas que viveram muito antes de você e as que viverão depois (como a versão antiga da visualização de Grande Canyon que alguns terapeutas recomendam).

“Pense na existência como um todo, da qual você é apenas uma minúscula parte; pense em todo tempo em que você recebeu um momento breve e passageiro; pense no destino – em qual fração disso você está?” Afinal: “Todo oceano é uma gota no Universo”, escreveu o imperador. “Todo o tempo presente é um pingo de eternidade.”

* Amanda Ruggeri é uma jornalista sênior da BBC Future. Ela está no Twitter como @amanda_ruggeri

 

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