Aprendendo a Envelhecer: a Hóspede

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Ninguém sabe quando começa a envelhecer…
… avisaram que receberia uma hóspede irrecusável. Uma pessoa muito próxima com
temperamento um tanto difícil.
Tão logo chegou, começou a fazer uma espécie de inspeção em mim e na casa. Exigente.
Achei muito desconfortável a visita. Não aceitava meu cardápio. cheia de vontades. Parecia
uma princesa mimada que empobrecera. “Cuidado com a minha cabeça na hora de lavar
meu cabelo; não deixe condicionador no meu cabelo; lave bem meus pés.”
Como era da família não pude perguntar quando partiria. Tomou a suíte, e ficava horas por
lá, sem querer muita conversa, a não ser sobre o café da manhã, almoço, jantar e as
minhas compras.
Ai! Perguntei a mim mesma: “por que justo eu para recebê-la?”
Descobri o mistério: o meu envelhecimento estava se instalando como uma experiência
desconhecida, diferente de tudo o que já havia conhecido de mim mesma.
Minha adolescência, a primeira menstruação, descobertas sexuais, a “revolução” da
universidade, meu casamento, minha primeira gravidez tão jovem… Meu corpo juvenil
transformando-se com harmonia mas quase irreconhecível. Adaptei-me.
A partir daí tudo aconteceu muito rápido mas nada tão intenso, emoções à parte.
Susto mesmo foi quando cheguei à menopausa. um fato estranhíssimo. Total. Corpo,
Coração e Mente.
Durante os intervalos das Grandes Mutações corporais e emocionais, tenho sido diligente
com a minha saúde, alimentação e exercícios. Ninguém falava em Envelhecimento Ativo
mas, intuitivamente, fui percebendo que com certos cuidados poderia diminuir o ritmo do
meu processo de envelhecimento. Bingo! E funcionou.
Ocorre que nem sempre isso foi possível por várias causas, inclusive crises.
Felizmente fui premiada pela Loteria Genética. Sou estruturalmente jovial, não estou
dizendo que sou juvenil.
Tenho boa flexibilidade. Como deixei de dirigir cedo, sempre preferi a caminhada do que o
ônibus. Quando o orçamento permitia _ o que era raro _ só andava de táxi. Tinha até conta
com Oscar Vieira, um taxista que se tornou grande amigo.
Quando o relógio bateu 65 badaladas, e fomos comemorar meu aniversário, meu filho
caçula disse: “Agora, mãe, o bom é que você pode ir quantas vezes quiser ao cinema; só
paga meia!”
A vida continuou sem muito assombro. Até que um dia percebi que me tornara hóspede de
mim. A hóspede já se transformara na dona da casa.
Thereza Christina Pereira Jorge

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