“Cobertor curto”? Uma rede de voluntários pode ajudar

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Provavelmente já aconteceu com você em mais de uma ocasião. Você está com frio, então estica o cobertor para cobrir sua cabeça, mas percebe que seus pés estão expostos. Logo você sente frio de novo, então arruma o cobertor, mas, ao cobrir os pés, expõe a cabeça. É meio frustrante.

O dilema do cobertor curto é uma teoria intuitiva segundo a qual é impossível cobrir nossas cabeças e pés ao mesmo tempo porque o cobertor não é longo o suficiente. Portanto, somos forçados a escolher entre duas opções, mas nenhuma delas nos satisfaz totalmente.

” Às vezes, estamos muito dispostos a acreditar que o presente é o único estado de coisas possível ” , escreveu Marcel Proust. Para escapar do efeito do cobertor curto, devemos parar de pensar que existem apenas duas soluções.

Em vez disso, é muito mais construtivo dizer a nós mesmos que, até agora, vimos apenas as duas soluções mais óbvias ou as duas alternativas que alguém nos propôs, mas isso não significa que não haja outros caminhos a explorar.

Para resolver o problema do cobertor curto, temos que mudar nossa abordagem. Podemos não conseguir esticar o cobertor, mas podemos assumir a posição fetal para nos cobrirmos melhor. Também podemos usar um segundo cobertor. Ou calce meias mais grossas.

O fundamental é estarmos cientes de que nosso problema pode ser o comprimento do cobertor, mas a necessidade de saciar é o frio. Ao mudar o foco, emergimos da dicotomia aparentemente intransponível para encontrar uma solução mais satisfatória para a verdadeira necessidade no fundo

Às vezes, só precisamos olhar além do alegado problema ou conflito. Quando nos concentramos na necessidade, sem respostas predeterminadas – ou indo além delas – podemos descobrir uma gama mais ampla de soluções que provavelmente serão mais satisfatórias e adequadas às nossas circunstâncias.

UM EXEMPLO

Luiza Carvalho, 60 anos, foi durante anos uma cantora profissional, mas atualmente tem sua vida dedicada ao ofício de culinarista. Atualmente moradora de Botafogo, depois de muitos anos vivendo e convivendo com a comunidade de Copacabana, que além de ser reconhecida como a “Princesinha do Mar”, é também, conhecido como o bairro com a maior concentração de idosos da cidade do Rio de Janeiro e segundo o último censo do IBGE, do Brasil.

“Doação de Amor! Eu e minha família buscamos idosa para apadrinhar, visitar, passear, dar atenção, ajudar na manutenção. Campanha: Adote um idoso. Amor é o melhor Remédio”

Rapidamente busquei contato com ela, que gentilmente topou conversar sobre essa sua comunicação, deixando claro que sua intenção, não era autopromoção e muito menos ter alguma vantagem que não fosse única e exclusivamente chamar a atenção das pessoas para os cuidados renegados a essa população mais idosa, sendo que alguns realmente estão em completa vulnerabilidade social e afetiva, não simplesmente a de cunho econômica.

É importante lembrar que o ageísmo é um termo que se refere a discriminação por uma faixa etária mais avançada, gerador de ideias preconcebidas e consequentemente, fomentador de preconceitos explícitos. Em uma pesquisa apresentada pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, foi identificado que em 57 países, mais de 60% dos idosos disseram ter sido vítimas do ageísmo. No Brasil, a cada dez pessoas, nove acreditam existir este preconceito. E como membros da sociedade, independente de estarmos ou não nessa fase da vida, há essa percepção cristalina.

E sem acreditar em casualidades, deparei na semana passada, com um comovente post divulgado no facebook, no qual Luiza Carvalho, compartilhou o seguinte texto:

Luiza Carvalho nos contou que essa sua maior sensibilidade pela causa dos mais velhos partiu justamente de seu contato maior com a situação, em função de sua mãe ter necessitado de cuidados, ainda mais responsáveis e zelosos, fato que acabou lhe direcionando a conhecer em lugares de apoio a tratamentos médicos e terapêuticos, tantas outras pessoas que passavam pelas mesmas adversidades na batalha por tratamentos de saúde. Em um desses encontros, Luiza Carvalho conheceu duas irmãs, que sozinhas, cuidavam uma da outra. Quando uma dessas irmãs veio a falecer, Luiza Carvalho, de forma devotada, a adotou, como membro de sua família, já que os laços já tinham, há muito, sido construídos.

Outras senhoras sozinhas acabaram por surgir e Luiza Carvalho sempre buscou oferecer convívio fraterno, atenção e assistência a essas pessoas, integrando-as em sua rede familiar.

A decisão de realizar uma postagem nas redes sociais, em um primeiro momento não teve apoio do seu marido e da filha, pois ficaram com receio de que ela pudesse ser incompreendida e até mesmo sofrer ataques, julgando-a sem devidamente conhecer sua história.

“Falta orientação em casa, falta o famoso berço, falta a noção de valores. Vemos o quanto os mais jovens, estão cada vez mais voltados para seu próprio umbigo, para seu crescimento, o que gera falta de amor e respeito sobretudo pelas pessoas mais idosas…  são muitos valores e princípios perdidos… mas é possível resgatá-los… eu sou uma gota no oceano, mas sei que há inúmeras outras gotas que juntas fazem toda a diferença e é isso que quero, transmitir com essa minha intenção, desejo e futura ação.” declara Luiza Carvalho.

Sua busca está avançando, inclusive, Luiza Carvalho, está em contato com o Recolhimento Betel, que é um lar cristão, com 81 anos de fundação, que acolhe senhoras idosas carentes, sem família, e acredita que logo, logo irá realizar seu desejo. Estamos na torcida!

Nenhuma ajuda é pequena, toda a ajuda é sempre muito bem-vinda e o que Luiza Carvalho quer, na ausência de sua mãe e suas “tias” do coração, é dividir seu afeto com aqueles que muitas vezes são empurrados para o limbo dos sentimentos. Alguns possuem até algum tipo de assistência, mas não tem atenção, não são acarinhados como deveriam ser, afinal, somos seres humanos, que além da racionalidade nata, temos emoções configuradas como elemento existencial e precisamos disso para nos sentir bem.

Que o gesto e a proatividade altruísta de Luiza Carvalho seja uma inspiração e que outras pessoas possam se comover e também agir em prol daqueles que nos deram as sementes e preparam o terreno para nosso plantio e que agora, no momento da colheita, possam também serem convidados para dividir conosco à mesa, em um gesto de gratidão, respeito e carinho.

Afinal a vida só tem sentido junto aos nossos semelhantes, até o fim!!!

P.S Luiza Carvalho não quis ter sua imagem divulgada para reforçar que sua ação – de forma alguma – não está ligada a uma autopromoção, mas sim a um puro e genuíno senso de humanização.

www.pensarcontemporaneo.com, diariodoRio.com

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