Turismo no Feriadão _ Um passeio pelo Rio Tietê

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Foto: Wikipédia

Navegação pelo Tietê traz surpresas e revela um rio mais limpo

Um Rio Tietê vivo e limpo tem um de seus pontos altos em Barra Bonita, a 300 km de SP. A navegação é uma das atrações para quem visita a cidade. O passeio é incrementado com a passagem pela eclusa (foto), que em novembro completa 50 anos.

 

A 300 km da capital paulista, Barra Bonita, com pouco mais de 36 mil habitantes, guarda um dos maiores tesouros do Estado: um Rio Tietê ainda vivo, limpo, habitável e utilizado por animais, moradores e turistas. A navegação pelas águas é a principal atração de quem visita a cidade, incrementada com um passeio pela eclusa, inaugurada em 1973 e que completa em novembro 50 anos – mais um convite para o feriado prolongado.

A história de Barra Bonita está diretamente ligada à do Tietê, tanto que o município inteiro é banhado pelas margens do rio. Sua fundação, em 1883, foi motivada justamente pelo fluxo intenso de navegações e comércio da cana de açúcar e outros produtos agrícolas. É às margens do Tietê que acontece a vida social de Barra Bonita, desde os bares e restaurantes da cidade até a feira de artesanato e a Praça Dr. Tatinho, em formato de navio. Na tarde de sábado em que o Estadão foi até lá, famílias faziam piqueniques pelos deques, ao mesmo tempo em que as crianças e adolescentes jogavam futebol, andavam de bicicleta ou apenas caminhavam pela orla.

Segundo Ericson Rodrigues, secretário municipal de Turismo, desde que o fim da pandemia foi decretado, cerca de 250 mil a 300 mil turistas visitam o município ao longo do ano. “A cereja do bolo”, diz, é realmente o passeio de barco pelo rio e pela eclusa, que atrai excursões escolares de todo o Estado e do Sul.

O PASSEIO

A eclusa é basicamente um elevador de embarcações que utiliza apenas a gravidade e o volume de água da represa para subir ou descer os navios entre um nível e outro do rio. Ali, o processo todo dura de 10 a 12 minutos e gasta 50 milhões de litros de água a cada ciclo. As comportas que fecham a câmara chegam a pesar 120 toneladas e a cena toda pode dar a impressão de estar em um filme de ficção científica ou em um porto medieval, a depender do seu espírito.

De dentro do barco, quase não dá para sentir o movimento de quando ele sobe ou desce. O momento de maior emoção foi quando o comandante Bruno Santos colocou para tocar My Heart Will Go On, clássico de Céline Dion para o filme Titanic, enquanto o navio se aproximava da eclusa.

O Estadão fez o passeio curto em uma das embarcações da Navios Xumbury, cujo pacote inclui almoço self-service. Nesta modalidade, as navegações só vão rio acima, com a passagem pela eclusa e depois retorno ao porto, tudo em torno de uma hora e meia a duas horas. Na versão completa, o barco desce o Tietê e vai até construções mais antigas.

A grande atração é mesmo a magnitude do Tietê, que varia de 15 a 35 metros de profundidade ao longo do trajeto – infestado de animais, como marrecos, garças e tuiuiús que vão mergulhando e sobrevoando o barco ao longo do passeio, alguns inclusive “hospedados” na eclusa.l

CORRENTEZA

Em partes, a razão pela qual o Tietê consegue sair da região metropolitana e chegar limpo a Barra Bonita é simples: ao longo do percurso que o rio faz para o interior, o movimento da correnteza se intensifica e, à medida em que as margens também vão se alargando, aumenta a oxigenação da água e, consequentemente, a decomposição da matéria orgânica despejada nela “Apesar de as cidades do interior também terem desafios de saneamento e do uso de agrotóxico, a população é menor e isso acaba minimizando os danos ao rio, que nesse ponto está mais volumoso”, afirma o biólogo Gustavo Veronesi, coordenador do Observando os Rios da SOS Mata Atlântica.

TRADIÇÃO NAVEGANTE

Oito navios de 5 empresas fazem o mesmo trajeto ‘aberto’ pelo pioneiro, Raphael Palmesan, em 1971

O turismo pelo Rio Tietê começou como tradição em Barra Bonita antes mesmo de a eclusa ser construída. O primeiro navegante a se aventurar nesse sentido por aquelas águas foi Raphael Palmesan, que deu início ao trajeto em 1971 quando fincou no chão de terra da orla uma plaquinha escrita “passeio de barco” com uma ponte de madeira até a avenida. Hoje, oito navios de cinco empresas fazem o mesmo trajeto, com capacidade para 3 mil turistas por dia. Uma delas é do filho de Raphael.

“Meu pai era amigo dos tripulantes de navios a vapor. Acho que ele começou isso por saudosismo”, afirma Hélio Palmesan. Hoje com 67 anos, ele conta que aprendeu desde os 11 a navegar com o pai pelo rio acima. “Na nossa família, misturadas no nosso sangue, correm as águas do Tietê”, diz. Hoje Hélio comanda o navio San Raphael, que nas suas contas já transportou mais de 12 milhões de passageiros, e se tornou uma das principais referências na luta pela despoluição do Tietê, encabeçando protestos, mobilizações e até “faxinaços” ao lado da população.

O Estado de São Paulo

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