Vida inteligente além do planeta Sexo

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Há vida inteligente além do planeta Sexo. Há vida sensível e as vozes são masculinas. O que acrescenta uma ênfase ímpar à informação. Três delas, de gerações diferentes, expressaram estranhamento em relação à “obesidade” da ênfase sexual.

O cineasta espanhol (dono de uma filmografia muito sensual) Luis Buñuel, o cantor e compositor Herbert Vianna, líder de “Os Paralamas do Sucesso” e o jornalista Fábio Santos, na época diretor Editorial do tabloide Destak.

 O cineasta espanhol Luis Buñuel, depois de perder o apetite sexual, aos 70 anos, registrou nas suas memórias: “Se soubesse que sem o desejo sexual eu iria ter tanta paz, eu gostaria de tê-lo perdido há muitos anos”.

Herbert Vianna contou à jornalista Monica Bergamo da Folha de São Paulo que se sentia aliviado por ter se livrado do que chamou “drive tarado.” E  acrescentou que hoje vive sem sexo. Comentando a coragem do músico, Fábio Santos registrou este comentário.

 “Como assim, um homem de 50 anos, rico e famoso, vivendo sem sexo? Pois é, há gente de todas as idades que, pelos mais diversos motivos, passa muito tempo sem transar. Essa é uma realidade mais comum do que gostamos de admitir.

O jornalista do Destak explicou que nem sempre a abstinência é fruto de disfunção, de doença ou qualquer anormalidade. “Sim, muitas vezes tem a ver com uma depressão, que pode suprimir o desejo. Mas não apenas. Pode ser opção, falta de parceiros que mereçam o investimento, ausência do ‘drive tarado’ a que se referiu Herbert Vianna ou uma composição de tudo isso.”

“Em boa parte do mundo, vivemos numa cultura hedonista, que nos bombardeia com imagens sexuais, incentiva a satisfação de todos os desejos e alimenta a ilusão de que a vida só vale a pena ser vivida se nos der prazer – sempre.”

Mas como isso tudo começou? Essa mitologia hoje superestimada alimentou-se em sua gênese de descobertas importantes do século passado: a psicanálise, a pílula anticoncepcional, a importância da sexualidade feminina, a relevância do prazer sexual.

“Nos anos 60 a tese do amor livre alicerçando no ideal de transar muito e bem passou a fazer parte de um ideal cultural” comentou o psicanalista Contardo Calligaris.

“A contracultura trouxe de volta a hegemonia de um hedonismo positivo”, diz ele. E, com ela, as novas bandeiras. Algumas, como o direito ao prazer ou ao orgasmo feminino, acabaram desfiguradas pelo mau uso. Se, no século XX, a repressão foi substituída por liberação, no século XXI, a liberação deu lugar a uma espécie de obrigação: de fazer muito sexo e de ter muito prazer. “

“A liberação sexual trazida com a contracultura resultou em um ideal tão coercitivo e tão difícil de ser atingido quanto o modelo de renúncia e castidade do período pré-revolução”, afirma outro psicanalista Ricardo Mezan.

O americano David Jay tem 32 anos e nunca sentiu desejo de fazer sexo desde sua adolescência. Nem hétero, nem homo. Ao falar sobre sua falta de interesse, Jay já enfrentou de tudo: recebeu olhares incrédulos, ouviu palavras de reprovação e piadas de mau gosto. E decidiu criar, em 2001, uma associação para reunir quem, como ele, não entende por que as pessoas se interessam tanto por sexo. Chama-se a Aven (Asexual Visibility and Education Network).

Conteúdo de 2019

 

 

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